Estes dias algo devastador aconteceu comigo.
Comprovei que estou ficando velho.
Esta é a minha história:
Fui fazer Teologia com 16 anos de idade, quando cheguei na sala de matriculas a secretária da faculdade pensou que eu estava no lugar errado e me mandou para a sala de matriculas do segundo grau. Quando ela descobriu que eu estava realmente para fazer a matricula do teológico eu ouvi pela primeira vez a frase que me acompanhou por muitos anos: mas você é um menino.
Dai por diante o colégio inteiro começou a me dizer isso.
A 13 anos atrás só pessoas bem maduras costumavam fazer teologia, pais de família, anciãos experientes, eu era o aluno mais novo na história do curso de teologia até então. As pessoas passavam por mim no colégio com olhos assustados e admirados, os mais corajosos me paravam e perguntavam: é você que está fazendo teologia? Com minha resposta afirmativa eu ouvia: mas você é um menino.
O tempo foi passando e estes comentários se tornaram comuns (mas sempre bem vindos).
Quando me formei e fui pastorear o distrito de Afogados da Ingazeira no sertão de Pernambuco, as igrejas do distrito entraram em frenesi.
- Mas mandaram um menino para ser o nosso Pastor diziam os mais impetuosos.
Algumas irmãs diziam: mas é só um menino, tem idade de ser meu neto e é o meu Pastor.
O esposo não adventista de algumas irmãs diziam: o menino veio aqui em casa lhe visitar e você não estava.
Ao que a irmã perguntava: que menino?
Ele respondia, de maneira incivil: o que vocês chamam de Pastor.
Isso nunca me apoquentou.
Mas o que estou tentando dizer é que essa semana reencontrei um amigo da faculdade que não via a 10 anos. E quando ele me abraçou disse: o que é que estão fazendo com você? “Tu tá acabado”. Eu o levei para almoçar ( preferia ter levado para o matadouro ) e durante o almoço duas vezes ele comentou: é, o ministério pastoral envelhece agente.
Nesse momento duas coisas aconteceram:
1- A amizade acabou.
2- Eu percebi que faz uns quatro anos que ninguém olha pra mim e diz: mas é só um menino e já é Pastor.
Corri pra minha esposa para ter minha moral levantada e ela disse:
- Meu filho você ainda está vivendo do tempo que as pessoas lhe viam com um bigodinho ralo na cara e lhe chamavam de menino, sinto lhe dizer mas esse tempo passou.
Ainda estou tentando me levantar, mas essa noite algo aconteceu.
Estou em minha biblioteca meditando e conversando com Deus, e resolvi ouvir a música da minha vida: Forte como um menino, na versão cantada por Tatiana Costa. E percebi algo que nunca havia percebido, apesar de já ter ouvido essa música Centenas de vezes.
Eu sempre ouvi essa música me colocando como um menino literal que não tem experiência ou vivencia, mas tem tido vitórias e recebido reconhecimento e hoje pela primeira vez eu disse: Senhor, eu não sou mais um menino de forma restrita, mas ainda tenho ferimentos em meio as vitórias, ainda tenho que esconder no peito o meu pesar e quedas, minha espada ainda está em punho, mas ainda choro sozinho pois não passo de um menino em meio a essa guerra espiritual.
Hoje eu disse ao Senhor: Querido Pai, as pessoas continuam me olhando com admiração dizendo que ninguém vai me derrotar. Mas não conseguem ver que estou vestindo uma armadura para esconder um coração de menino que chora.
Ajuda-me Senhor a nunca crescer diante de Ti, hoje eu senti o prazer de me ver diante de Ti como aquele menino que foi com 16 anos fazer teologia, me ajuda a dizer as pessoas através da minha vida que ao cair ainda vou a Tua presença para ser limpo, levantado e perdoado.
Não sei sua idade, mas você é o menino e a menina de Deus e as rugas teimosas nunca irão tirar esse status seu.
“Quando Israel ( Josanan, Maria, carlos. Joana...) era menino Eu o amei; e do Egito chamei o Meu Filho”. Oséias 11:1
A propósito esse meu amigo de faculdade também está meio acabadinho e com um barrigão. (valeu Joãozinho).
